
“Na América Latina, só temos duas saídas; ser resignados, ou ser indignados. E eu não vou me resignar nunca”, disse certa vez o antropólogo, educador e político Darcy Ribeiro ao jornalista, tradutor e escritor Eric Nepomuceno, convidado especial da mesa de debates de abertura do 5º Festival de História (fHist) em Diamantina (MG), realizada na noite do dia dois de outubro de 2019. Em sua fala, Eric emocionou o público e foi aplaudido de pé, depois de enumerar perguntas que gostaria de ter feito ao amigo, falecido em 1997.

“Nunca perguntei a Darcy Ribeiro se ele se considerava um intelectual peculiar. Não perguntei nem precisei perguntar: evidentemente Darcy era peculiar em tudo que fez, e sabia disso”, afirmou o jornalista, lembrando que o antropólogo “jamais se recolheu aos claustros acadêmicos ou da burocracia oficial para lá ficar olhando a vida ao longe, a realidade transformada em números e estatísticas, a vida como objeto de análise fria, calculada, distante, indolor”.
“Nunca perguntei a Darcy Ribeiro se ele costumava cochilar, mas posso assegurar que não. Mesmo quando breves, seus sonhos seriam profundos. Porque profundos e infinitos em sua ousadia foram seus sonhos. E não se sonha grande em cochilos leves. Darcy não sonhou pequeno, nunca. E também não se limitou a sonhar um mundo melhor, mais justo e possível. Foi lá, fazer com que seus sonhos virassem realidade”, destacou Eric Nepomuceno na mesa da qual participaram também o sobrinho de Darcy, Paulo Ribeiro, e o antropólogo André Borges de Mattos, professor da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Como aconteceu na abertura, a emoção contagiou as dez mesas do Festival que reuniram 30 convidados para debater com os 465 participantes inscritos as “Histórias do Povo Brasileiro”, eixo temático da quinta edição baseado na obra de Darcy Ribeiro. Este foi o caso, por exemplo, da mesa “Brasil Indígena”, que contou com a participação dos líderes indígenas Marcos Terena e Ayra Tupinambá, do antropólogo Antônio Carlos de Souza Lima e do historiador Caio Pedrosa, da UFVJM.

Ou da mesa “História da Escravidão no Brasil”, que teve como conferencistas o escritor e jornalista Laurentino Gomes, a professora Macaé Evaristo, e o músico Flávio Renegado, sob mediação da historiadora Vitória Azevedo, professora da UFVJM. Ou ainda do aulão de História “Democracias em crise”, proferido pelo historiador Daniel Aarão Reis com mediação da historiadora Keila Carvalho, também professora da UFVJM.

Além das mesas de debates, as prosas com autores propiciaram momentos de pura emoção no contato direto entre leitores e escritores. Entre os dias dois e cinco de outubro, nada menos do que 13 prosas promovidas na Livraria e Café do fHist no Espaço Diamantina contaram com público de cerca de 350 participantes e a presença de autores, como os historiadores Mary Del Priori, Bruno Leal e André Ramos, e as jornalistas Adriana Negreiros, Sulamita Estelian e Virgínia Castro, entre outros.
Porque Diamantina é Patrimônio Cultural da Humanidade?

Outro momento emocionante propiciado pelo 5º fHist foi a premiação dos alunos do ensino fundamental e médio vencedores do Concurso de Desenho e Produção Escrita Porque Diamantina é Patrimônio Cultural da Humanidade? Realizado pelo fHist em conjunto com a Secretaria de Educação, o concurso comemorativo do aniversário de 20 anos do reconhecimento mundial do centro histórico da cidade mobilizou mais de dois mil alunos das escolas de Diamantina para responderem à pergunta do concurso em quatro categorias: Desenho livre; História em Quadrinhos/Tirinha; Poema; e Paródia.

Assim, na manhã do dia três de outubro, o espaço de debates do Festival seria tomado por mais de 300 crianças, adolescentes e professores para assistirem à premiação dos vencedores: Amália Efigênia Santos, do 3º ano do ensino fundamental da Escola Rogério Firmino Lopes, do povoado Capoeirão, na categoria Desenho livre; Yuri Antunes Martins, do 5º ano do ensino fundamental da Escola Júlia Kubitschek, na categoria História em Quadrinhos; Lavínia de Souza Figueiredo, do 6º ano do fundamental da Escola Municipal de Sopa, na categoria Poema; e Tainara Silva Almeida, do 2º ano do ensino médio do Instituto Federal do Norte de Minas, campus Diamantina, com a Paródia do poema de Manuel Bandeira ”Vou-me embora para Pasárgada”.

Oferecidos pelos parceiros do fHist, os vencedores receberam uma bicicleta, um tablet, um notebook e uma viagem a Brasília respectivamente. Também os professores dos alunos foram premiados com uma viagem turística.
Seminário, minicursos e oficinas

Pela primeira vez, o Festival de História contou com um espaço exclusivo de apresentação de pesquisas acadêmicas. Organizado pelo Curso de História da UFVJM entre os dias dois e três de outubro no Teatro Santa Izabel, o 1º Seminário Nacional do fHist/V Semana de História recebeu mais der 50 produções de pesquisas historiográficas, difundindo-as para um público mais amplo, em uma jornada de troca de saberes e de construção de novos formatos de aproximação e publicização do conhecimento histórico.

Dois minicursos e cinco oficinas completaram as atividades de reflexão e formação do 5º fHist. A Casa de Chica da Silva recebeu os minicursos “Fotografia de rua”, ministrado pela jornalista Bárbara Ferreira e pelo fotógrafo Gabriel Cabral; e “Primórdios da cozinha mineira”, sob a batuta de Vani Pedrosa, coordenadora do Projeto Primórdios da Cozinha Mineira do SENAC, e dos chefs Maicon de Sá e Maicom Rodrigues Roberto Adaad, enquanto que o Largo Dom João recebeu a Unidade Móvel do SENAC, onde foram ministradas para 90 inscritos as oficinas, também degustativas, “Pão de cactos e defumados”, “Moqueca de quintal”, “Vinhos e queijos de Diamantina”, entre outras.
Exposições, cinema e música

Capítulo à parte, a programação artística e musical do 5º Festival de História em Diamantina manteve o sucesso das edições anteriores. Com curadoria da fotógrafa Isis Medeiros, a exposição “Mulheres Cabulosas da História” encantou os visitantes na Casa de Chica da Silva. Por sua vez, o Museu do Diamante, antiga casa do inconfidente padre Rolim, recebeu as criativas exposições “Para além dos diamantes: o coco e ouro em Diamantina”, da fotógrafa Raquel Galicioli e da artista plástica Elisa Grossi, e “Mantos virgens”, do artista plástico Marcelo Brant.
No Teatro Santa Izabel, duas sessões de cinema marcaram a programação do Festival. Em “O Povo Brasileiro: Mistura e Invenção”, filme dirigido por Isa Ferraz, Darcy Ribeiro nos conduz pelos caminhos da nossa formação como povo e nação. Já no filme “Joaquim”, o diretor Marcelo Gomes nos conduz em uma jornada humanizante pela vida do inconfidente Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Conhecida por sua musicalidade singular, Diamantina foi ainda palco de performances e concertos surpreendentes promovidos pelo 5º fHist. No espaço de debates do Festival, o músico Saldanha Rolim brindou o público com a performance “Brasilidade (s)”. Na Casa de Chica da Silva, a musicista Daniela Passos encantou com o concerto “Contas e cantos do Rosário”, inspirado nas festas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Já na Igreja do Amparo, foi a vez do Quarteto Diamantino, sob a direção do flautista Evandro Archanjo, conduzir o público pelos acordes da música produzida na cidade no século XIX.

Uma balada apoteótica marcaria, por fim, o encerramento da quinta edição do Festival de História no sábado, cinco de outubro. Com a praça do Mercado Velho tomada por mais de duas mil pessoas, o espetáculo foi embalado até a madrugada do domingo pelas apresentações de Joyce Santos, do DJ OR7 e de Átila Alves, seguindo-se show de Flávio Renegado e Quarteto Masai com participação especial dos convidados Telo Borges e Marina Machado.
Apresentado pelo Ministério da Cidadania por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, o 5º Festival de História em Diamantina foi uma realização da Stratégia e da Nota Comunicação, com produção-executiva da Dupla Promoções. O Festival contou com as parcerias da Prefeitura de Diamantina, do Curso de História da UFVJM, do Sistema Fecomércio Sesc Senac, do IPHAN e do Museu do Diamante/IBRAM e apoios da Hplus Hotelaria e da Farmácia Indiana, sendo patrocinado pela Cemig e por Furnas Centrais Elétricas.