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José Murilo Carvalho no 3º fHist
Quebrando mitos: panfletos da Independência
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Os historiadores José Murilo Carvalho, Lúcia Bastos e Marcello Basile esquadrinharam por quase duas décadas bibliotecas no Brasil, em Portugal e no Uruguai - a antiga Província Cisplatina. O objetivo era encontrar informações sobre um dos períodos mais conturbados da política brasileira, entre os anos de 1820 e 1840. O material encontrado foi mais caudaloso que o imaginado. E permitiu a seleção de 362 panfletos, 68 cartas, 60 análises e 107 sermões, diálogos e manifestos e 127 poesias e relatos - para compor os quatro volumes do livro "Guerra literária – Panfletos da Independência (1820-1823)", publicado pela Editora UFMG.

A pesquisa inédita, apresentada em mesas de debates do 3º Festival de História tanto em Braga quanto em Diamantina em 2015, revelou um Brasil diferente do que geralmente conta a historiografia. Ao invés de uma população apática quanto aos acontecimentos políticos, que dá apenas à elite o poder de decisão, o estudo comprova a forte participação popular. "Havia povo no processo da Independência. Assim como havia povo na abdicação do imperador Pedro I, e na maioridade de Dom Pedro II", resume José Murilo.

Para Marcello Basile, a quantidade de panfletos surpreendeu, assim como a amplitude do debate, que redimensiona a visão elitista do processo de Independência. "O debate foi muito mais amplo e diversificado do que se pensava e atingiu todas as categorias sociais", afirma. Do material encontrado, os pesquisadores aproveitaram apenas os relativos ao Brasil.

Os panfletos começaram a ser escritos em 1820, quando eclodiu a Revolução Liberal do Porto, em Portugal, exigindo o retorno de Dom João VI para a Europa. O episódio abriu "guerra literária" entre os portugueses e brasileiros, conforme o cônego Luís Gonçalves dos Santos, o padre Perereca. Em panfletos, o padre defendeu o Brasil contra desaforos de alguns lusos. Manuel Fernandes Tomás, por exemplo, considerava o país "selvagem, inculto, e terra de macacos, dos pretos e das serpentes".

Outros episódios atiçaram mais lenha à fogueira, como a mobilização para Dom Pedro I ficar no país, a Independência do Brasil, a Guerra da Cisplatina e entreveros como a Guerra dos Farrapos, a Sabinada, a Cabanagem, a Revolta dos Malês e a Balaiada. O ano de 1840 marca o declínio dessa maré, com o reconhecimento da maioridade de Dom Pedro II.

Os panfletos

Divulgados geralmente à surdina, para fugir da repressão das autoridades, os panfletos eram escritos por magistrados, padres, militares e profissionais liberais ligados à administração pública. Precisamente 95 dos autores foram identificados. Muitos panfletos políticos eram afixados em postes para a leitura dos passantes. Outros eram reproduzidos em gráficas, quando a imprensa praticamente ainda não existia.

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